terça-feira, 3 de outubro de 2017

Análise aos resultados: Autárquicas 2017.

Uma das eleições autárquicas que nos últimos anos maior interesse despertaram são sempre uma boa de fonte de interpretações e leituras políticas e do estado dos partidos.Penso que muitos concordarão que a sociedade do concelho de Esposende volta a ser isso mesmo, uma sociedade e que não só na política se vive um renovado interesse nas instituições do concelho.
Mas como em todas as eleições existem vencedores e vencidos, lados com ganhos e lados com perdas. 

Benjamim Pereira foi claramente o grande vencedor. Perdoem-me a imagem algo pueril, mas olhando para os  resultados Benjamim Pereira fez-me lembrar a selecção francesa nos tempos de Zinedine Zidane, uma força tranquila.Muitos o consideram como um candidato algo apagado, envergonhado e com pouca capacidade de debate e resposta mas mão só consegue uma percentagem histórica para o PSD como consegue aumentar em quase 2000 votos o seu número de votos em relação a 2013 fazendo a direita manter os cerca de 13.000 votos que lhe cabem em todo o concelho de Esposende. Com 6 vereadores eleitos consegue a maioria e coloca João Cepa como líder da oposição tendo uma vida mais facilitada na gestão camarária. Apostou em não responder aos ataques de maior índole pessoal que lhe sempre foram sendo feitos pela oposição deixando-a a falar sozinha, não tendo apostado na massificação das redes sociais, apostou no contacto das pessoas e nos seus representantes nas assembleias de freguesia. Mas nem tudo será laranjada para o PSD neste próximo mandato. Com João Cepa como vereador a oposição será efectiva e institucional e terá de haver respostas às perguntas e aos desafios que lhe serão colocados de uma forma mais célere e dinâmica já que existem 2 factos que não podem ser esquecidos: Benjamim Pereira contou com uma considerável dose de votos na lógica "anti-Cepa",um trunfo que não se joga 2 vezes na cabeça dos eleitores, e terminou o período de adaptação ao cargo, é necessário deixar mais cunho no concelho.

João Cepa é o grande derrotado destas eleições.É interessante fazer um paralelo entre ele e Valentim Loureiro, também candidato independente a Gondomar este ano, e perceber que nenhum deles percebeu o que aconteceu ao seu antigo camarada de partido, Luís Filipe Menezes na corrida ao Porto em 2013. Tal como Valentim Loureiro, João Cepa volta a uma Câmara onde já foi feliz sem o perfume do poder e ambos enfrentaram uma dura verdade da vida política, nem todos gostam dos resquícios do perfume de poder. Ambos, tal como Luís Filipe Menezes, partiram de uma ideia muito própria de que ainda eram queridos e admirados por um boa parte do povo, o orgulho em dizer que ainda eram tratados por "presidente" é comum aos 3, e não foram além dos 20%. João Cepa apostou numa campanha muito centrada no Facebook e na presença física com um grupo dinâmico de jovens que o acompanhava em todas as arruadas o que criou, e neste domínio muito bem pensado, uma sensação de vaga de fundo sobre a lista que de outra forma teria sido impossível de ter. Mas, tal como Luís Filipe Menezes, acabou em modo "tinto e porco no espeto" ao terminar a campanha na Quinta da Malafaia, um momento em que deveria ter enfrentado a aridez da praça pública e colocar à prova a sua popularidade com um comício numa noite fria de nevoeiro. João Cepa é o líder da oposição esposendense e agora cabe a ele gerir o futuro da JPNT: Ser uma opção válida como candidato para 2021 ou fazer o seu percurso até ao final do mandato e abandonar a lista para outro concorrente. Seria um enorme desperdício deixar todas as caras novas que entraram pela 1ª vez num lista política desaparecerem. Cabe a João Cepa fazer perceber se a JPNT será lembrada por ter sido uma verdadeira alternativa ao PSD em Esposende ou se por outro lado será apenas lembrada pelo caos e rupturas que gerou nos partidos alheios e ser apelidado do "Gorbatchov Esposendense".  

Manuel Enes de Abreu, e o PS, foi um dos lados com ganhos nestas eleições. Evitou a extinção do partido depois da saída de algumas das mais constantes e importantes figuras do partido, perdeu cerca de 33% dos votos para a Câmara, ganhou 2 juntas de freguesia e teve quase o mesmo número de votos para as juntas de freguesia e acima de tudo mostra que esta lista e este grupo de pessoas são claramente  melhor hipótese do PS-Esposende voltar a ser uma alternativa ganhadora neste concelho.
Uma campanha pensada com mais calma e mais implementada teria evitado a fuga de votos para o PSD e JPNT e hoje teríamos uma surpresa ainda maior com um PS  a discutir o 2º lugar. 

O CDS-PP e Artur Viana foram um dos lados com maior perdas nesta noite. O  cenário de perda de mais de metade dos votos deixa um travo amargo no partido e João Pedro Lopes terá de acalmar e pacificar as hostes depois deste resultado, com a certeza porém de que os mesmos que não estiveram com ele depois da ruptura com João Cepa serão os primeiros a aparecerem a bradar por mudanças.Algo me diz que a distrital terá uma palavra forte a dizer sobre o futuro do CDS-PP. Artur Viana tinha uma das melhores campanhas, tinha um programa altamente concretizável, por vezes curto nas medidas, mas  foi vítima do voto útil que terá sido canalizado para Benjamim Pereira ou João Cepa. Artur Viana, honra lhe seja feita, conseguiu fazer esquecer que não tinha sido a primeira opção, e isso já é um grande feito.  

Manuel Carvoeiro terá tido uma noite agri-doce. Ficou longe do vereador desejado e que tinha colocado como objectivo no início da corrida,ficou a 35 votos de bater o CDS-PP no total para a Câmara Municipal mas bateu os democratas-cristãos em todas as outras votações o que atendendo à diferença de meios é algo de notável. Fica a sensação que com um pouco mais de divulgação hoje a CDU poderia ter tornado a noite do CDS-PP ainda mais crítica. Será necessário à CDU alargar ainda mais o seu leque de interlocutores com o povo esposendense para disparar nas votações. 


Como nota de rodapé, deixar aqui o agradecimento à Esposende Serviços que neste momento é um verdadeiro serviço público na informação esposendense, se eles não o fizerem mais ninguém o fará.



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