segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

E em Esposende Acontece


O aparecimento do Esposende Acontece (E.A) era algo que estava a ser muito antecipado e aguardado como o novo dominador dos meios de informação esposendenses.

Deixei passar alguns meses até partir para a análise do Esposende Acontece, para que as edições fossem estabilizadas, o editorial apurado e definido, a equipa de cronistas enriquecida e fechada e qual o rumo das notícias mais recorrentes.

Como sempre, tudo o que é ansiado e muito desejado nunca corresponde na totalidade aos anseios.

O E.A ganha pontos no seu aspeto visual, sendo novo na cena esposendense e até cativante com uma escolha de cores garrida mas não excessivamente espalhafatosa.

Os anúncios estão bem inseridos no ambiente do site e as fotos são geralmente de boa qualidade, em especial no que concerne aos símbolos das associações locais, clubes de futebol e as associações recreativas.

A aposta na parceria com as instituições é uma jogada inteligente, consegue dar vida às suas atividades e faz do jornal um ponto-de-encontro dessas instituições, algo que era necessário desde o semi-desaparecimento da Esposende Rádio e do efetivo desaparecimento do Jornal de Esposende.

Mas, para mim, o seu principal trunfo são os cronistas.

O E.A dá muita visibilidade aos seus cronistas e faz deles o seu principal atrativo dando aparentemente liberdade na temática que cada um aborda não se restringindo apenas a temáticas esposendenses.

Não posso deixar aqui de saudar e de elogiar as crónicas de José Felgueiras acerca da história de Esposende, um dia alguém perceberá que José Felgueiras é o homem indicado para compilar e publicar a definitiva história de Esposende e que isso com certeza não seria dinheiro atirado ao ar, e aos meus dois companheiros de blogue Francisco Melo e João Torres por todos os motivos e mais alguns.

Estas crónicas permitem diversificar os temas em questão, onde cada um aparentemente fala da área que lhe é mais próxima e pessoalmente acho isso muito positivo, permitindo uma maior proximidade dos cronistas aos seus leitores e dando-os a conhecer o que intrinsecamente permite uma valorização das pessoas enquanto pessoas e enquanto elementos da sociedade.

Mas, raramente aquilo que é ansiado e desejado corresponde às expectavas.

O E.A é demasiado parco no acompanhamento da vida noticiosa em Esposende.

Na sua linha editorial é referido que não se deve contar com o jornal para falar de crimes, tragédias e disputas políticas, mas sendo um jornal sobre o concelho não faz sentido não acompanhar estes casos quando são realmente notícias.

A política faz parte da vida de um concelho e deve ser algo natural na vida dos habitantes do concelho. Eu sei que na atualidade muitos são aqueles que acham que a política é algo supérfluo e que deveríamos viver sem políticos e que isso colhe muitos apoios mas isso não é uma atitude séria e responsável e a luta política é também ela parte da sociedade.

As tragédias e crimes banalizaram-se na nossa imprensa e hoje qualquer crime em Mangualde abre os telejornais, mas quando estes são realmente anormais ou de dimensão relevante por que não falar deles? O que não me parece que concorra para o aumento de estima esposendense é perceber como se tiram nódoas de café ou quais os melhores remédios caseiros para a tosse.

Diz o editorial que o E.A quer ser um jornal que mostra o lado bom de Esposende e para a gente da terra se orgulhar, mas isso já faz a revista da câmara "Esposende em revista" e todos sabemos o que se diz desta publicação porque em Esposende não existem apenas coisas boas, existem coisas más e oportunidades de melhoria e jornalismo também é mostrar essas situações.

Se ser um parceiro das instituições é altamente positivo, fazer a reprodução fiel dos cartazes de jogos e dos resultados dos clubes desportivos, ou o programa das atividades das nossas instituições e dos magustos e das festas do marisco, sem mais nenhum texto é algo que hoje em dia se consegue visitando uma ou duas redes sociais e não é necessário um jornal para nos dar essa informação a posteriori.

Faltam as entrevistas às forças políticas, comerciais, empresariais, institucionais não só para dar a conhecer o que as pessoas têm para dizer, o que querem fazer com os seus cargos mas também para perceber o que correu mal no seu percurso até então. Fazer um escrutínio da vida esposendense, porque esse escrutínio demonstra a vivacidade da própria sociedade em si.
Mas o pecado capital é a ausência de artigos assinados, de notícias sem rosto e sem nome.

Posso estar enganado, mas poucas são as noticias em que se sabe quem as escreveu e isso não é dignificante para o jornal, para o artigo e para o jornalista e leva sempre a ponderações sobre quem realmente o fez sendo que as poucas com fonte identificada são sempre provenientes da Câmara Municipal.

Não é um louvor um jornal não ter um jornalista identificado, um nome que sobressaia e que dê cara ao jornal.

Olhando para a sua ficha editorial apenas deslumbramos o nome do diretor geral e na redação temos um enigmático "Geral" e o respetivo email "geral". Isto não é algo que dignifique ou que dê credibilidade ao jornal, é algo que me sugere alguma opacidade em quem o elabora.

O Esposende Acontece continua a ser um bom projeto e continua a ser um bom ensaio para um portal de informação de Esposende. Deve no entanto perceber se quer ser um jornal ou um "portal" de Esposende para não cair numa zona de indefinição sobre o mesmo e isso matará o projeto em si.

Mas a verdade é que ainda não domina o espaço mediático em Esposende e ainda lhe falta capacidade de reação e de resposta à vida do concelho para ser um marco e uma bitola na vida esposendense.

O caminho faz-se caminhando...

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