sexta-feira, 28 de março de 2014

Esposendenses pelo Mundo (2)

Artur Silva, 28 anos, natural de Apúlia, é engenheiro de telecomunicações e reside em Brno, República Checa, onde trabalha.

Em terras de cerveja mundialmente reconhecida, onde se situa a cidade milenar de Praga, e onde nasceu Franz Kafka, fomos falar com este jovem esposendense espalhado pelo mundo, e conhecer um pouco da sua história e das suas impressões sobre a República Checa e Portugal, nunca esquecendo, claro está, a terra que o viu nascer e crescer.
Imagem: Artur Silva, Brno

Há quanto tempo vives na República Checa?

Estou a viver na República Checa, mais concretamente em Brno, há dois anos e meio.

Qual foi a primeira coisa que te impressionou no novo país ao cabo dos primeiros dias?

O silêncio em espaços públicos, como estações de comboio e autocarros, e o civismo das pessoas.
Os transportes públicos também me impressionaram muito. Sempre pontuais e a circularem para todo o lado.

Aprender uma nova língua foi necessário, ou o inglês serve para tudo?

O inglês acaba por servir.
Claro está que no dia-a-dia, em situações como no supermercado ou pedir indicações na rua, o checo é sempre uma mais-valia. No entanto, embora esteja a viver cá há quase 3 anos, a verdade é que pouco mais sei em checo do que pedir comida no restaurante. O checo é uma língua muito difícil de aprender e de falar (risos).
À medida que o tempo passa, noto que Brno fica cada vez mais preparada para os estrangeiros. Os mais novos, normalmente, conseguem comunicar em inglês.
Existe uma comunidade bastante grande de imigrantes altamente qualificados (muitas multinacionais têm centros cá) e nessa comunidade existem também bastantes portugueses, bem como estudantes de Erasmus.

Quais são as principais diferenças que notas entre Portugal e a República Checa?

O clima e a mentalidade das pessoas.
O clima é diferente, com partes más e partes boas.
As más são que, por exemplo, aqui faz mais frio no inverno, e às vezes (poucas) há chuva gelada, o que é muito perigoso porque o chão fica com uma camada de gelo uniforme e sair de casa significa automaticamente que vais cair no chão, o que não é nada bom.
As boas é que aqui não faz vento e a humidade é muito baixa, portanto sente-se menos frio do que em Portugal no Inverno, e menos calor no Verão. Por exemplo, 5 graus negativos cá são menos severos do que apanhar com a nortada na marginal de Esposende quando estão 7 graus!
Quanto à mentalidade das pessoas, na República Checa as pessoas são mais fechadas.
A privacidade é respeitada no sentido em que ninguém quer saber da vida dos outros. Claro que há sempre o habitual “cochicho” no escritório acerca disto ou daquilo, mas de um modo geral cada um vive a sua vida sem perder muito tempo com comentários acerca da vida dos outros.
Imagem: Brno, República Checa

Como é que caracterizas o típico «checo», desde o colega de trabalho, passando pela pessoa que te atende num café ou serviço público?

Os checos são, de um modo geral, pessoas frias e fechadas.
Não são um povo que ofereça sorrisos de forma gratuita como os latinos, por exemplo.
São também pessoas eficazes que fazem o que têm a fazer e não estão com muitos “salamaleques”.
Por outro lado, quando se cria empatia e confiança com os checos, revelam-se pessoas surpreendentemente muito bem-dispostas e prestáveis.

Como é que se ocupam os tempos livres na República Checa?

Viajar (dentro e fora do pais), estar com os amigos nos bares, e quando o tempo está solarengo fazer actividades ao ar livre, como andar de bicicleta.
Há sempre meetings, com várias actividades, para os estrangeiros que vivem cá.

Para além de Brno, e a inevitável Praga, há mais algum lugar (ou lugares) da República Checa que conheças e tenhas gostado particularmente?

A Republica Checa é um país muito bonito para se visitar.
Quase todas as cidades e vilas têm os centros históricos bem recuperados e impecáveis, super limpos e exclusivos para peões.
Há muitas cidades com o título de património mundial da UNESCO.
Cesky Krumlov é na minha opinião, e sem qualquer dúvida, a vila mais bonita do país.
Imagem: Cesky Krumlov, República Checa

A República Checa iniciou-se há poucos anos na União Europeia, mas é um país a que ainda associamos imediatamente uma história de forte presença comunista. São duas realidades que se sucederam no tempo e na prática, ou ainda coexistem entre si?

Sim e não.
Acho que a ideia que as pessoas têm da República Checa ainda ser comunista é errada. A nível político o país está longe do comunismo. No entanto, há a herança comunista que é inevitável.
O nível de formação é altíssimo cá. Por exemplo, fazer um mestrado é o habitual para os estudantes de cá, e há muitos estudantes a fazerem doutoramentos.
O lado mau, por exemplo, é que um médico em início de carreira ganha quase tanto como um operador de caixa que faça noites num supermercado...
Os transportes públicos oferecem um serviço incrivelmente fiável e completo em regime 24 horas, todos os dias, incluindo fins-de-semana, por preços muito baixos (o passe custa cerca de 20 euros por mês).
Outra parte da herança comunista que se vê na República Checa é a que respeita à habitação. Com efeito, as casas são pequenas e as pessoas estão habituadas a isso.
Arrendar um apartamento segundo o standard português fica bastante caro, na ordem dos 500 euros ou mais, por mês, para um T0.
Quanto à actual situação das pessoas, pelo que me contam, nos anos 90 houve uma corrida ao estilo de vida e consumo de marcas ocidentais. Hoje em dia é óbvio que a República Checa é uma sociedade bastante consumista, mas que se preocupa menos com as aparências do que Portugal. Compram o que gostam porque querem, e não para exibir.

Que visão têm os checos sobre Portugal e os portugueses?

A maioria dos checos olha para Portugal como um destino de férias, mas a opinião que têm sobre Portugal é boa.
Quando vim para cá em 2011, falava-se bastante na crise e no resgate do FMI. Notava-se que os checos tinham alguma “pena” dos portugueses pelo que tinha acontecido à economia portuguesa. Mas, apesar disso, a opinião continua a ser boa.
Não me senti minimamente discriminado aqui, muito pelo contrário. Surpreendeu-me também que bastante gente fale português, e os checos que visitaram Portugal adoraram o nosso país. Das pessoas com quem falei, a opinião é unânime!
  
Como é que se olha para Esposende a partir da República Checa?

Acho que a forma como olho para a minha terra não mudou muito.
O meu principal choque cultural deu-se há 6 anos atrás quando fiz ERASMUS na Lituânia, mas nessa altura ainda era um miúdo.
Hoje em dia, ao olhar para trás com um pouco mais de calma, e com os pés assentes no chão, considero que o que temos em qualquer lugar é o que faz desse lugar característico.
Já vivemos na Europa em que temos tanto em comum em todo o lado, que se apontarmos o dedo e tentarmos mudar tudo para igual, perdemos a nossa identidade.
Esposende a Apúlia são terras lindas com virtudes e defeitos que as caracterizam.

À sua escala, que prática (s)/medida (s) de bom que encontras em Brno achas que poderia muito bem vir a ser aplicada em Esposende?

Tão simples e básico quanto isto: serviço Drink&Drive!
Na República Checa, a tolerância ao álcool é zero (por contraponto com Portugal, em que a tolerância para a generalidade dos condutores vai até 0,49 gramas de álcool por litro de sangue), e as multas são extremamente pesadas.
O serviço Drink&Drive está vocacionado para as pessoas que vão no seu carro para os copos (ou não fosse a cerveja checa a melhor cerveja do mundo), e no regresso, em vez de virem por conta própria, com todos os riscos a isso associados, ligam para um serviço que vem ter com a pessoa e que conduz o seu carro até casa. Note-se que por este serviço o preço praticado é praticamente o mesmo que o preço de um táxi!
Se tivéssemos um serviço desde género em Esposende (dava imenso jeito para as noites no Pachá e no Bibofir), penso que seria um projecto pioneiro nas redondezas, desde logo porque contribui para tornar as estradas mais seguras.

Quem visitar a República Checa, que lugar e que prato não pode perder?

Quem visitar a República Checa tem de provar as suas cervejas. Há para todos os gostos e feitios (risos).
Quanto à comida típica, existe a Svickova (carne de vaca estufada com molho de arando por cima), que é boa, embora não morra de amores por ela.
Mas para quem vier a Brno e queira comer bem e a bom preço, deve ir ao Starobno (a cervejaria da fabrica de cerveja local) que eu tenho a certeza que fica satisfeito!
Imagem: Lednice, República Checa

Ao voltar a Esposende qual é aquele lugar a que apetece sempre voltar?
Ir ver o mar tem de ser a primeira coisa a fazer, e depois ir tomar um café ao Maré Baza para estar com os amigos!



Esposendenses pelo Mundo” é uma rubrica que pretende dar a conhecer os “esposendenses” espalhados pelos 4 cantos do mundo, partilhando as suas impressões sobre os novos lugares que habitam, os povos e culturas com quem convivem, e o seu olhar sobre a terra que os viu nascer e crescer.
Se conheces algum “esposendense” espalhado pelo mundo, ou se és tu próprio um “esposendense” espalhado pelo mundo, e gostasses de ver a sua/tua história aqui partilhada, escreve para largodospeixinhos@gmail.com, com indicação do nome, país e contacto de e-mail ou FB.  

sábado, 22 de março de 2014

O bom, o mau e o vilão!

Podia ser um qualquer título de filme, que alias é , e dos bons. Mas não é de cinema que quero falar, se bem que isto dava para guião.

De há uns tempos para cá têm surgido inúmeros blogues, os quais têm uma escrita com tendência para a maledicência, que nada acrescentam, nem ideias, nem conceitos que possam ser debatidos e aproveitados para o bem do concelho.

Estes, têm como alvo preferencial o antigo Presidente da Câmara Municipal de Esposende, o Sr. João Cepa.
Daí o título deste post, "o bom, o mau e o vilão". Na política consegue-se ser tudo isto, e alguns "comentadores de bancada" sentem necessidade de com as suas línguas viperinas o traduzir em actos e acções. João Cepa é para esses "comentadores de bancada", para os "editores" desses blogues, não o bom, mas o mau e o vilão. Esses que se escondem sobre a assinatura do anonimato, esses que não conseguem dar a cara e mandam os palpites inseridos numa névoa cinzenta para que não possam ser reconhecidos, põem em causa o bom nome da pessoa e deturpam tudo aquilo que este fez (e muito fez bem).

João Cepa foi, até hoje, provavelmente, o melhor Presidente de Câmara que Esposende teve. Não estou a dizer com isto que não existissem outras opções válidas, mas ele ganhou e sempre se mostrou empenhado em fazer o seu melhor e a verdade é que em 15 anos de actividade autárquica o Concelho de Esposende cresceu em várias áreas de actividade. Já diz o povo "Não se pode agradar a Gregos e a Troianos", é óbvio que algumas coisas ficaram por fazer, mas que fez muitas coisa bem fez, disso não haja dúvida.
É sem dúvida essa a imagem que deveria ficar de uma pessoa que durante 15 anos dedicou o seu tempo à causa pública e sabe Deus o que deve ter deixado para trás para "abraçar" esse projecto.
É preciso nervos de aço e paciência de "Jó" para aguentar muitas das coisas que ao longo desse tempo foi acontecendo.

Essa é a fase do "bom", a parte que deveria permanecer e que agora estão a pegar para fazer dele o mau e o vilão. Certamente estas pessoas que escrevem por entrelinhas e não têm a audácia de mostrar quem realmente são, nunca tiveram a oportunidade de ter o "seu tacho", ou nunca lhes foi dada essa oportunidade... Serão certamente uns "falhados" que tem de se alimentar com a vergonha que tentam impor aos outros.

Está a acontecer a João Cepa mas poderia acontecer a qualquer outro ex-Presidente, acontece que, normalmente, só quem causa sombra é que normalmente é atacado.
A única palavra que me ocorre para esses blogues é "asco"... Não sou advogado de defesa de ninguém, nem o quero ser, mas que o que estão a fazer é de uma cobardia atroz lá isso é verdade!

Aqui daremos sempre a cara pelas nossas opiniões!!!

Bolsas de ar ou de estudo?

  É com satisfação  que soube da notícia que a Câmara Municipal vai retomar as bolsas de apoio aos estudantes que ingressarem no Ensino Superior.
 A importância destas medidas são demais conhecidas, como a prevenção do abandono escolar,  possibilita melhores qualificações aos cidadãos e consequente melhores salários e melhor qualidade de vida. Os números mostram que ao contrário do que vêm sido adventado por muitos na nossa sociedade (e em especial alguns que frequentaram o ensino superior) o ensino superior continua a garantir um melhor salário e uma maior possibilidade de se ser empregado.
 E Esposende não foge a essa regra. Quem analisar os números dos últimos censos repara que a maior percentagem de desemprego situa-se nas pessoas com o 12º ano e em termos de salários, com o aumento de escolariedade também aumenta o salário, cerca de 200€ de diferença para cada um dos diferentes níveis.
 O que mais poderia ser feito?
 Tal como já escrevi anteriormente aqui, seria interessante transportes directos para os pólos universitários mais próximos, mas neste caso admito que teria de haver uma lógica de vontade popular para não se incorrer no risco de se alocarem meios de transporte para serem votados ao abandono.
 Uma ideia que seria algo revolucionária e seria a “lança em África” era a de criar uma bolsa de arrendamento para jovens universitários nos locais de estudo.
 O método seria simples e eficaz.Conseguir  um conjunto de habitações nas cidades universitárias mais próximas em regime de exclusividade com uma instituição de Esposende, as quais a instituição promoveria e seria uma espécie de agência mas teria acesso a uma renda mais reduzida ou proporcionaria rendas mais reduzidas a quem arrendase sendo estas comparticipadas. Assim era um bom negócio para todos, os jovens tinham uma casa a preço atrativo, os senhorios tinham a garantia de terem arrendamento e pagamento garantido, a instituição ganharia com o interesse dos intervenientes do mercado do arrendamento.  
 Claro que alguns poderão dizer que também seria interessante também apoiar o ensino profissional, e aqui deixava uma ideia para um futuro roteiro da educação: a da Escola Industrial especializada para alunos pós-12º ano.

 

quarta-feira, 12 de março de 2014

Saint Moritz, o futuro é este Esposende.

Saint Moritz é uma pequena cidade situada nos Alpes, com uma população e uma área geográfica aproximadamente à de Esposende.

Esta pequena cidade é conhecida como o berço dos desportos de Inverno e já albergou por 2 vezes os Jogos Olímpicos de Inverno, 1928 e 1948, é um ponto de passagem obrigatório para os diversos campeonatos mundiais de desportos de inverno, tem uma estação de comboio onde termina uma linha ferroviária com estatuto de património material da Humanidade pela UNESCO, é servida por um pequeno aeroporto para jatos de pequeno porte que detém o título de aeroporto da Europa a maior altitude, tem uma escola de aviação, tem 4 hóteis de 5 estrelas, um clube de vela, um clube de hipismo, nas suas ruas existem Rolls-Royces e ouve-se russo.
O seu comércio local conta com restaurantes galardoados com estrelas do Guia Michelin, conta com um stand da Maserati, lojas da Hermés, Prada, Bulgari, Gucci, La Perla e mais algumas marcas do mesmo calibre, mas também conta com duas sucursais do COOP (o equivalente ao Pingo Doce) e conta com uma loja do cidadão e ainda, e o que mais me surpreende, conta com um serviço de autocarros, 3 linhas, dentro da cidade.

Relembro, esta cidade é do tamanho de Esposende…

E ao descrever isto lembro-me do que os meus pais me contavam do que era Esposende há uns valentes anos atrás, lembro-me do que era a movida e os acontecimentos que aqui ocorriam e de como era normal receber eventos de grande visibilidade em Esposende. Claro que hoje a mesa do xadrez mudou e os olhares e o dinheiro mudou de mãos e mudou de rotas, que o poder industrial passou a ter mais força no magnetismo de certos eventos e tornou-se mais aglomerador de mais dinheiro e de mais atenção.
Mas o dinheiro não compra o mais importante: classe!  

 E é aqui que o nosso esforço de turismo tem de ser centrado, classe, classe e mais classe!

Nos últimos anos verificamos que Porto, Matosinhos e Leça só se notabilizam por eventos agarrados a um público jovem e a reboque das cervejeiras ou empresas de telecomunicações. Póvoa de Varzim e Vila do Conde seguem o seu exemplo mas numa dimensão muito mais reduzida. Viana do Castelo e a restante orla costeira do seu distrito vivem do turismo sazonal de Verão e pouco mais. Se formos mais longe, Espinho vive quase em exclusivo do que o seu casino quiser, Vagos e Mira quase não existem e a Figueira da Foz é uma sombra do que era.
Como concelho temos de reganhar este espaço, temos de reganhar esta credibilidade.

Somos pequenos? É verdade, mas assim conseguimos ser mais autênticos e melhor controlar o nosso planeamento e território.
Não temos um clima tropical? É verdade, mas nem toda a gente gosta de dias de 45ºC, e em muitos países o calor excessivo é um motivo de descompensação.
Não temos grandes praias? É verdade, mas podemos redescobrir o rio como atração turística e como local de eventos de atividades naúticas.
Não temos hóteis de grande capacidade? É verdade, mas as torres de Ofir serviriam muito bem para serem esse hotel de referência, caso Torralta.
Não temos atividades? É verdade, mas isso dá espaço em termos de tempo e espaço para novos eventos.

Voltarei a este tema novamente, mas fica a ideia do meu ideal para Esposende, ser a referência de turismo entre o rio Minho e o Rio Douro a curto prazo e entre o Rio Minho e a Ria de Aveiro a médio-longo prazo! 

Visit Esposende

Estando a decorrer o importante evento gastronómico «Março com Sabores do Mar», com diversas ações de campanha em curso, aproveitei para espreitar o site «visiteesposende» vocacionado para a promoção turística do concelho de Esposende e das suas atividades.
O site está muito bem conseguido, cumpre na sua função de promover e informar sobre o concelho, mas tem uma importante lacuna: não dispõe de versão em inglês. E atrevo-me a dizer que versões em espanhol e francês também se justificam.
Inglês, dado o seu caráter universal. Espanhol, dada a proximidade do concelho com a Galiza e a captação de turistas daquela região. Francês, dada a forte comunidade do concelho presente na França e na Suíça e que pode promover a nossa terra nas regiões daqueles países onde está inserida.
Uma vez que ainda faltam alguns meses para o Verão, valerá a pena apostar na internacionalização do site. 

domingo, 9 de março de 2014

"in"JUSTIÇA - cada vez mais longe de si!

" Ninguém é bom juíz em causa própria" e o mesmo se poderá dizer de advogado! A condição humana assim nos condiciona e o povo, nos seus ditos nascidos da experiência, já há muito fez disso ciência. 

Consciente das limitações que condicionam a minha opinião e abstendo-me de aqui verter o teor de tomadas de posição da Assembleia de Comarca de Esposende da Ordem dos Advogados (que em tempo oportuno e através dos seus representantes se encontra a tratar do assunto), permito-me lançar apenas o assunto: a alteração ao mapa judiciário e os seus impactos em Esposende.

É certo e começa a ser sabido que Esposende, concretamente no que à justiça diz respeito e à semelhança de outras comarcas, vai sofrer mexidas.
Também o Tribunal Judicial de Esposende vai perder competências, passando algumas dela, em prol da tão badalada especialização da justiça, a ficar concentradas em Braga, Barcelos e Famalicão. Sim! Famalicão.

Perdido que estava o hábito de ir “ao Governo Civil a Braga”, eis que agora lá teremos que ir ao Tribunal. - Com alguma ironia sempre poderemos aproveitar de lá ir e resolver também os assuntos da Segurança Social já que o Centro Distrital fica na porta da frente.

Barcelos será seguramente o “mal menor”. Já lá íamos ao tribunal de trabalho... aproveita-se a viagem e vai-se ao hospital e à feira semanal.

Já no que respeita a Famalicão... ninguém de Esposende tem ligação alguma com Famalicão. Famalicão é para a nossa gente tão só e apenas a terra onde são feitas as calças de ganga da Salsa. 

Claro que, com a informatização da justiça, cada vez menos precisamos de deslocarnos ao tribunal. Claro que na maioria das vezes precisará de ir o advogado e não a parte ou as testemunhas. Mas é também claro que o facto de o nosso tribunal judicial se tornar em larga medida uma cabine telefónica com um telefone moderno que permite video-chamada é mais de meio caminho andado para que um dia desses haja apenas um “balcão da testemunha” numa qualquer conservatória e que a justiça por cá passe a ser feita através de sala de chat em vez da tradicional sala de audiência.

Não importa por agora abordar que espécie de acções é que vão para onde nem quais as que ficam. Importa sim saber-se que não ficaremos como estamos e que, lamentavelmente, há um sem número de mudanças recentes que merecem o rótulo “Mudar para pior”.

Esta centralização de recursos, de especialização, esquecendo os destinatários, é a verdadeira selva. Acreditar-se que a justiça absolutamente desligada do contexto social onde ocorrem os factos conduzirá a uma decisão justa... é o mesmo que acreditar que qualquer um de nós é capaz de perceber as tradições alentejanas tendo vivido toda a vida no norte.

Enquanto profissional da área estou certo que eu e todos os meus colegas de arte, por muito que a “Sra. de Lisboa” insista em converter 90% do país em província, continuaremos a exercer a nossa profissão pautando-a pela proximidade.

E um dia destes nos átrios do nosso tribunal deixaremos de ouvir o “Atenção, vai-se proceder à chamada” por um “atenção, vamos efectuar a chamada, a video-chamada”.

quinta-feira, 6 de março de 2014

Caminhada na Marginal

Corre nos últimos tempos a intenção de revitalizar o Forte São João Baptista.
Esta vontade surge como um bom complemento à recente renovação da Marginal de Esposende e a antecipar o ainda não iniciado parque da cidade de Esposende, mas mais do que isso, é uma oportunidade para termos um novo rumo na política urbanística de Esposende e corrigirmos alguns problemas (opinião pessoalíssima) antigos ao nível da marginal de Esposende.

Mas que problemas?

1)Um dos maiores problemas da marginal de Esposende é o facto de termos apenas habitação familiar a quase todo o seu comprimento e o que não é habitação familar está demasiado afastado dela para garantir movimento e vivacidade à mesma, caso do Mercado Municipal, ou são edifícios institucionais, caso da capitania e do tribunal, ou terreno virgem.  Este urbanismo não permite a existência de locais de comércio e de lazer ao longo da marginal,  tais como restaurantes, cafés  ou mesmo bares, que permitiriam alargar o movimento de pessoas a um maior comprimento e não ficar restringido à zona do Pé-no-rio e que não retirasse da cidade a vista da foz do Rio Cávado.
2)Outro dos grandes problemas da Marginal de Esposende é a Área Protegida do Litoral de Esposende. Sei que alguns me dirão que o ambiente é importante, mas desde que alguém descobriu  que no meio de uma zona protegida se poderia construir uma habitação falar de Área Protegida  de Esposende é o mesmo que falar do Homem das Neves, só acredita nela quem quer…
As restrições ambientais fazem com que seja quase impossível recriar a zona balnear junto ao Suave-Mar ou criar as condições para desportos naúticos nessas mesmas zonas e que permita valorizar o facto de Esposende ser uma das melhores zonas para kitesurf a nível europeu e crescer também nos campos da vela e das classes de embarcações curtas.
3)A localização do Mercado Municipal e do parque de estacionamento adjacente e o edifíco da Guarda Fiscal. As suas localizações são um empanque na fluidez arquitectónica da zona central e atiram o comércio para fora da rota das pessoas que ali passam e utilizam os passeios, já que quem usa o parque de estacionamento não precisa de passar pelas lojas.

Que soluções?
A solução não é fácil e requer políticas de urbanismo a longo prazo e uma mão-forte por parte da gestão camarária.  Inicialmente seria necessário restringir a construção nessa zona e apenas permitir a construção de habitação com zona comercial turística e mesmo zona comercial pura. Ter-se-ia de recorrer a expropriações dos espaços baldios e das casas abandonadas naquela zona.Seria necessário a recolocação das infra-estruturas ligadas ao turismo e lazer nestas novas localizações.  Esta transferência teria de ser incentivada e patrocinada, fazendo assim da marginal o ponto fulcral para esta indústria e libertando a parte interna de Esposende para outras atividades económicas.  
Teríamos também de relocalizar a Guarda Fiscal e o Mercado Municiapal, abrindo esses espaços a novas utilizações, já que estes dois espaços não têm sentido na sua localização actual, um deveria estar na zona Sul onde está a maior densidade populacional e o outro fora da cidade, onde se situa a GNR.

Solução para o Forte São João?
A solução para o Forte têm de ser integrada na política a aplicar restante Marginal.
A ser renovado isoladamente, deveríamos ter algo que permita uma utilização permanente e que dê vida quer no Verão quer no Inverno logo deveria ser ou um hotel, mínimo de 4 estrelas, ou colocar as instituições ligadas ao mar naquela zona.  Poderíamos mesmo falar de um local de excelência para aglomerar instituições ligadas ao mar ou mesmo centros de investigação,ou novas tecnologias, etc, que permita um fluxo de pessoas constante e atrair em época baixa movimento.

P.S: Se alguém do Hotel Suave-Mar estiver a ler, aqui vai uma dica grátis: sacrifiquem alguns quartos no último andar e transformem-no num bar panorâmico  e têm um dos mais apetecíveis espaços da zona norte.

terça-feira, 4 de março de 2014

Manuel Ribeiro

Decorreu, no último fim de semana, mais uma edição do torneio de andebol feminino do concelho, o qual, desde o ano passado, tem o nome do Professor Manuel Ribeiro nele incluído, no que constitui uma forma de homenagear o "pai" do andebol em Esposende.
Manuel Ribeiro, bracarense de berço, e esposendense de coração, destacou-se no nosso concelho como o impulsionador de uma modalidade que, até então, não tinha qualquer expressão, mas que rapidamente veio a assumir particular preponderância.
Primeiro com o Esposende Bascontriz, agora com a Juventude do Mar, Esposende é, indiscutivelmente, uma referência no panorama andebolístico feminino nacional. 
A par do futebol e da canoagem, o andebol faz parte da "troika" das modalidades desportivas com mais relevo no concelho, e para isso muito contribuiu a dedicação e empenho de Manuel Ribeiro.
Manuel Ribeiro era também um fervoroso adepto do ABC, e, claro está, da Selecção Nacional de andebol, acompanhando sempre os campeonatos europeus e mundiais onde Portugal participava. Não deixava, aliás, de ser curioso, que sempre que as transmissões televisivas procuravam destacar algum adepto português, invariavelmente, lá aparecia o Professor trajado com as cores nacionais, a carregar a esperança e apoio lusos.

No ano passado, numa sessão de evocação e homenagem a Manuel Ribeiro levada a cabo, em boa hora, pela Câmara Municipal de Esposende, resultou o desejo de ser escrito um livro sobre a vida e obra do Professor Manuel Ribeiro.
Se há personalidade cuja vida dava um filme e, por maioria de razão, um livro, é Manuel Ribeiro.
Espero, sinceramente, que alguém possa tomar acção a partir da intenção deixada na sessão de evocação, pois Manuel Ribeiro foi uma personalidade carismática, que marcou gerações de esposendenses que com ele conviveram, e que merece ser dado a conhecer às gerações vindouras. 

Um exemplo, entre outros que prometo ir aqui contando, para ilustrar a figura especial que era Manuel Ribeiro.
Algures em Setembro de 2005, estava a campanha autárquica ao rubro [Manuel Ribeiro, nessas eleições, era candidato pela CDU, com um slogan muito sugestivo "Manuel Ribeiro a vereador do desporto"], quando numa manhã de sábado encontrei Manuel Ribeiro pelo Serra da Sorte a pôr a leitura dos títulos dos jornais em dia.
Já não nos víamos há algum tempo (tinha sido aluno de Manuel Ribeiro no 10.º ano), e colocámos, brevemente, a conversa em dia. Aproveitei para perguntar ao Professor como é que estava a correr a campanha, agora que a data das eleições se começava a aproximar.
Manuel Ribeiro respondeu-me que estava naquelas eleições para ajudar o seu partido de sempre, o qual passava por um mau bocado no concelho, e que com o seu contributo e notoriedade talvez conseguisse eleger, finalmente, alguém para a assembleia municipal, que era o principal objectivo. Mas, ao mesmo tempo, o Professor referiu-me que procurava também participar nas eleições em missão de serviço público, colocando a temática do desporto na agenda principal da discussão, sabendo-se do potencial do concelho naquela área. 
E, foi então, quando me disse "Queriam que eu falasse mal do Cepa na campanha, mas eu disse logo que não, que não podia fazer isso. Então o rapaz andou lá na escola quando eu era Professor, sempre foi impecável para comigo, sempre nos entendemos muito bem, nunca tive razões de queixa, e eu agora ia falar mal dele só porque sim? Nem pensar nisso. Eu quero fazer uma campanha pela positiva, chamar a atenção para a necessidade de investimento no desporto, sem ter de fazer ataques pessoais".
Uma campanha pela positiva. É, de facto, a principal impressão que retiro da campanha do Professor Manuel Ribeiro naquelas eleições, e que representou uma saudável pedrada no charco, usualmente pouco límpido, dos combates eleitorais. 
Uma lição de dedicação à causa pública, respeito pelos adversários e honestidade na intervenção política, que é exemplo e que nunca perde a sua actualidade.

sábado, 1 de março de 2014

Carnaval antecipado na Assembleia Municipal

O momento carnavalesco da última sessão da Assembleia Municipal de Esposende, que decorreu na passada quinta-feira, deu-se quando Manuel Carvoeiro, deputado municipal da CDU, questionou a atribuição, por parte da Câmara Municipal, de um subsídio de reintegração a João Cepa, no seguimento da sua cessação de funções enquanto presidente da Câmara.
O subsídio de reintegração, previsto durante vários anos no Estatuto dos Eleitos Locais, visava ajudar os autarcas no seu regresso à actividade profissional, após o exercício de cargos autárquicos. Em 2005, acabou por ser revogado, ficando, porém, salvaguardados os direitos adquiridos.
No final do ano passado, vários autarcas requereram este subsídio, tendo João Cepa, legitimamente, feito igual pedido
De notar que a nova redacção do Estatuto dos Eleitos Locais, contendo a cláusula de salvaguarda dos direitos adquiridos, mereceu a aprovação do...PCP, a par de outros partidos.
Causa, assim, particular estranheza o facto de Manuel Carvoeiro ter questionado a atribuição de um subsídio de reintegração cujos pressupostos foram, em devida altura, aprovados pelo partido a que pertence, e subsídio esse que, certamente, não terá deixado de ter sido requerido por camaradas seus, dado o assinalável número de autarcas jurássicos comunistas que entraram em "extinção" após as últimas eleições autárquicas.
Manuel Carvoeiro ao ter lançado a pedrada do subsídio de reintegração quis, naturalmente, causar escândalo e polémica, mas acabou por conseguir o efeito contrário ao desejado, atenta a manifesta falta de honestidade intelectual neste assunto.

Fevereiro em revista

«O desporto pelo desporto!», por Manuel Pereira
«Agora... A Cultura!!!», por João Felgueiras
«Acesso facilitado?», por Manuel Pereira
«Em 2017 eu votarei...», por João Paulo Torres
«Frases de 2014 (1)», por Francisco Melo
«Nas ruas de ninguém!», por Manuel Pereira
«Torres de "Temporal"», por João Felgueiras